A existência ética.
Senso moral e consciência moral
Muitas vezes, tomamos conhecimentos de movimentos nacionais e
internacionais de luta contra fome. Ficamos sabendo que, em outros países e no
nosso, milhares de pessoas, sobretudo crianças e velhos, morrem de penúria e
inanição. Sentimos piedade. Sentimos indignação diante de tamanha injustiça.
Sentimos responsabilidade. Movidos pela solidariedade, participamos de
campanhas contra fome. Nossos sentimentos e nossas ações exprimem nosso senso moral.
Quantas vezes, levados por algum impulso incontrolável ou por alguma
emoção forte (medo, orgulho, ambição, vaidade, covardia), fazemos alguma coisa
de que, depois, sentimos vergonha, remorso, culpa. Gostaríamos de voltar atrás
no tempo e agir de modo diferente. Esses sentimentos também exprimem nosso
senso moral.
Os exemplos mencionados indicam que o senso moral e a consciência moral
referem-se a valores (justiça, honradez, espírito de sacrifício, integridade,
generosidade), a sentimentos provocados pelos valores (admiração, vergonha,
culpa, remorso, amor, dúvida, medo) e a decisões que conduzem a ações com
conseqüências para nós e para outros. Embora os conteúdos dos valores variem,
podemos notar que estão referidos a um valor mais profundo, mesmo que apenas
subentendido: o bem ou o mal. Os sentimentos e as ações, nascidos de uma opção
entre o bom e o mau ou entre o bem e o mal, também estão referidos a alago mais
profundo e subentendido: nosso desejo de afastar a dor e o sofrimento e de
alcançar a felicidade, seja por recebermos a aprovação dos outros.O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos,
intenções, decisões e ações, referidas ao bem e ao mal e ao desejo de
felicidade. Dizem respeito ás relações que mantemos com os outros e, portanto,
nascem e existem como parte de nossa vida intersubjetiva.
Juízo de fato e de valor
Se dissermos: “Está chovendo”, estaremos enunciando um acontecimento
constato por nós e o juízo proferido é um juízo de fato. Se porém falarmos: “A
chuva é boa para as plantas” ou “A chuva é bela”, estaremos interpretando e
avaliando o acontecimento. Nesse caso, proferimos um juízo de valor.
Juízos de fato são aqueles que dizem o que as coisas são, como são
e por que são. Em nossa vida cotidiana , mas também na metafísica e nas
ciências, os juízos de fato estão presentes. Diferentemente deles, os juízos de
valor, avaliações sobre coisas, pessoas, situações e são proferidos na moral,
nas artes, na política, na religião.
Os juízos éticos de valor são também normativos, isto é, enunciam normas
que determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos
comportamentos. E também nos dizem o que são o bem, o mal, a felicidade. Os
juízos de éticos normativos nos dizem que sentimentos, intenções, atos e comportamentos
devemos ter ou fazer para alcançarmos o bem e a felicidade.
Os constituintes do campo ético
Para que haja conduta ética é preciso que exista o agente consciente,
isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado,
permitido e proibido, virtude e vício. A consciência moral não só conhece tais
diferenças, mas também reconhece-se como capaz de julgar o valor dos atos e das
condutas e de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso
responsável por suas ações e seus sentimentos e pelas conseqüências do que faz
e sente. Consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida
ética.O campo ético é, assim, constituído pelos valores e pelas obrigações que
formam o conteúdo das condutas morais, isto é, as virtudes. Estas são
realizadas pelo sujeito moral, principal constituinte da existência ética.
O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa só pode existir se
preencher as seguintes condições:
- ser consciente de si e dos outros, isto é,
ser capaz, de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos
éticos iguais a ele;
- ser dotado de vontade, capacidade para controlar e orientar desejos,
impulsos tendências, sentimentos e de capacidade para deliberar e decidir entre
várias alternativas possíveis;
- ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação- ser
livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos
atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que forcem e o
constranjam a sentir, a querer a fazer alguma coisa.
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